A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

Charles Chaplin

quinta-feira, 2 de setembro de 2010


O Desmatamento Humano

Usa, amassa e joga fora.
É o que fazemos normalmente com uma folha de papel.
Tudo bem, ela não tem vida, não respira, não fala, não anda, não pensa, não sente. Será? Muito antes de se tornar essa branca folha de papel, ele era uma árvore, portanto, um ser vivo. Não... eu não vou agora escrever contra o desmatamento e nem sobre o meio ambiente. Não é o meu ponto nesse momento, apesar de ser um assunto que precisamos considerar de maneira cuidadosa. Só estou pensando por um momento na capacidade do homem de tornar algo tão belo e perfeito naquilo que ele precise usar. Pense comigo...

A árvore estava lá, quietinha, cumprindo a sua função, que diga-se de passagem, essencial para a nossa sobrevivência. Ela foi criada para isso, esse é o ponto forte dela: distribuir vida, oxigênio para nós. Quando ela faz isso, torna-se maravilhosa com suas folhas verdes, seus galhos fortes e até seus frutos deliciosos. Aí vem o homem. Egoísta. A corta desde sua raiz, acaba com suas forças, a mata e a transforma em um pedaço de papel. Claro, o papel também é importante. Precisamos dele no nosso dia-a-dia. Nele guardamos nossos segredos, nossas dúvidas, nossas palavras, nosso conhecimento, nossos projetos, nossa história...
Mas, ao contrário de quando ele era árvore, ele não nos fornece nada mais do que palavras. Não faz mais fotossíntese. As suas folhas não secam mais, não murcham, não colorem mais nossas ruas. Frutos, ele não pode dar. Tornou-se um papel, morto. Um ser -não- vivo.

Quantas pessoas por aí já foram transformadas em uma página branca. Possuem tantas habilidades, talentos e dons que as tornam diferentes de todo o resto do mundo. Com o que conseguem fazer, podem distribuir vida como uma árvore faz todos os dias. Quando fazem aquilo que foram projetadas a fazer, quando colocam em prática seus pontos fortes, se tornam tão mais belas e satisfeitas com seu trabalho. Mesmo que trabalhem 24 horas por dia, você verá um sorriso em seus lábios e uma disposição que elas nem sabiam que tinham, afinal, estão cumprindo a sua função, serem úteis da maneira e aonde sabem ser. Aos poucos os frutos começam a brotar. Torna-se essencial viver ao lado dessa pessoa, porque a sua sombra nos acolhe em dias quentes e difíceis, seu oxigênio nos dá a força para continuar seguindo em frente e seus frutos... ah... seus frutos são doces. Tão doces que transformam o mais amargo sentimento em alegria e bem estar.

Mas, mais uma vez, entra o homem. Ele tenta moldar essas pessoas para cumprirem aquilo que ele quer e precisa. Como fez com a árvore, também tenta as corta pela
raiz e impede que elas vivam como deveriam viver, fazendo o que deveriam fazer. Elas precisam ser o amigo perfeito, que só dá e nada recebe. O funcionário que cumpre deveres que não levam ao seu crescimento profissional. O aluno que não pode expor sua criatividade, porque não pode fugir do padrão já exposto. O ser humano que é visto como uma folha de papel que pode ser usada e descartada quando o outro bem entender. São pessoas que vivem em mundo totalmente egoísta, que diz que
"todos precisamos contribuir para o bem da humanidade", mas que não dá a liberdade para essa contribuição. Pessoas que apenas cumprem seus deveres e quando voltam para casa se sentem inúteis, porque não deram os frutos que gostariam de dar. São árvores, que ainda não morreram, mas que estão secando por não conseguirem liberar o que tem de melhor.

Se essas árvores secarem de vez, serão apenas papeis, onde poderemos escrever, rabiscar, cortar, amassar e jogar fora, porque ficarão totalmente insensíveis. Por isso, essas raízes precisam ser regadas, para que as folhas fiquem verdes e não apagadas. Para que o oxigênio continue a fluir até o outro lado do mundo. Para que os frutos continuem adocicando nossas vidas. Para que a árvore, ou melhor, a pessoa, volte a ser viva. E por último, para que nós possamos ouvir aqueles sorrisos e palavras de satisfação e de dever cumprido, vindo de quem usa e abusa de seus dons e habilidades, sem barreiras.

Por Melissa Lima