A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

Charles Chaplin

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Mundo injusto?

Uma análise sobre a crise, a desigualdade, a economia mundial e a minha ignorância sobre tudo isso


Melissa Lima

Vejo miséria e pobreza todos os dias na TV. Ando pela Avenida Paulista, símbolo comercial de São Paulo, a caminho do estágio e contemplo o contraste da humanidade diariamente: engravatados de cabeça erguida passando por desabrigados, que inutilmente estendem uma das mãos, clamando por ajuda. Já participei de projetos sociais. Levei lanche, roupas e água mineral para desamparados. Brinquei com crianças em casas de abrigo, abracei idosos em asilos e comprei almoço para duas pessoas que me pediram. Tento cumprir a minha “missão” social. Afinal, moro em um país onde a desigualdade é evidente, onde ficar sensível para tudo isso é mais fácil. Mas, será que é mesmo? Será que conheço a realidade da maioria? Após conhecer a história de Cristina Fallarás, descobri que a resposta é não.

Como estudante universitária brasileira, convivendo com amigos de classe média ou média alta, posso dizer que pouco conheço a realidade do mundo. No entanto, com a leitura de “Sou a despejada que fala” a realidade bateu na minha porta ao pensar que Cristina Fallarás poderia ser a prima de uma amiga, uma tia distante, uma colega de trabalho ou, mais assustador ainda, a minha mãe. A minha hipocrisia só me permitia olhar com piedade para as pessoas prejudicadas pelo injusto sistema econômico mundial, sabendo que em casa tenho tudo o que preciso. A história dessa jornalista espanhola abalou o meu sentimento constante de segurança. Por ela estar mais próxima da minha realidade, fui capaz de compreender o que é viver sem o mínimo de dignidade possível.

Não compreendia, e confesso que ainda não compreendo, a dimensão da crise financeira que atingiu principalmente os países europeus. Mas, por meio dos textos indicados, posso concluir que a causa de tudo isso é tão profunda, que não sou capaz mesmo de compreender tudo.

Como pode um banco brasileiro ter um lucro maior do que a economia de 33 países? Um país que é o 4º em desigualdade social, segundo estudo feito pela ONU em 2012. A pirâmide global da riqueza infelizmente indica que quase 70% da população mundial tem menos que 10 mil dólares. Enquanto apenas 29 milhões de adultos possuem uma riqueza 12 vezes maior que a da maioria. Mundo injusto?

Vicenç Navarro na coluna “Domínio Público” do Diário Público (Espanha) apresenta dados ainda mais específicos. “Entre 1983 e 2010, os 5% da população com maior propriedade viram-na crescer 83%, enquanto os 80% de toda a população (a grande maioria da cidadania) viam descer a sua propriedade em 3,2%”, afirma o colunista. Ele ainda diz que em 1973 um CEO de uma grande empresa recebia “apenas” 22 vezes mais que um empregado comum de sua empresa. Em 2008 a desigualdade passou para 231 vezes. Mundo injusto?

Como disse Vicenç Navarro, “a concentração de poder econômico e financeiro enfraquece enormemente a democracia, até o ponto de eliminá-la em muitos países”. E penso que posso afirmar que um desses países é o meu Brasil. O estudo do cenário econômico mundial nos permite compreender muitos dos problemas pelos quais ansiamos por mudanças. Talvez seja a causa de todos os males. Talvez a minha geração precise olhar para isso, para poder sair nas ruas com a motivação correta, lutando contra esse mundo injusto.

*Este análise foi escrita baseada nos textos abaixo, indicados pelo meu professor de História, Cultura e Comunicação, José Salvador Faro. Diga-se de passagem, a melhor matéria, o melhor professor.
Bonificações intoleráveis (The Guardian, via Presseurop)

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