A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

Charles Chaplin

sábado, 27 de setembro de 2014

Parcela da qual faço parte

"Queria ser doutora, mas vou ficar quieta mesmo" Francilene, 14 anos. 

Essa frase acabou comigo. Faço parte de uma parcela do Brasil que tem o privilégio de poder sonhar em ser alguém importante e poder seguir em frente com esse sonho. Cursar uma faculdade, ter um emprego e tentar ser aquilo que sonhou. Faço parte de uma parcela do Brasil (diria do mundo, mas não vou generalizar), que tem o desejo e o impulso (de tudo a sua volta) para ser um líder de sucesso. A Geração Y, totalmente capaz de lidar com todo tipo de tecnologia e liderar de forma diferente das gerações passadas.

Faço parte de uma parcela do Brasil (do mundo mais uma vez, mas não quero generalizar de novo), que mais parece uma criança mimada quando não consegue o que quer ou quando seu conforto é abalado. "Não tem água em São Paulo? Como assim vou ter que economizar no banho e deixar meu carro sujo? Não estou nem ai... Os políticos que resolvam o problema... Eu que não vou me prejudicar por causa da má administração deles". Enquanto isso, milhares de famílias não tem água faz tempo lá nas regiões secas do nosso nordeste e outras só tem acesso a uma água suja, não essa branquinha e limpa que sai da sua torneira. (Sim, na África também brigam por água, mas não vou generalizar de novo.)

Faço parte de uma parcela do Brasil (do mundo, mas de novo...) que está totalmente alheia ao sofrimento e pobreza, preocupada mais com o lançamento do iPhone 6 e como o Plus entorta, enquanto pessoas morrem antes de chegar em um hospital por causa da Ebola (ops, é fora do Brasil). Leram que Steve Jobs não deixava seus filhos usarem iPad, dizem que estão preocupadas com o monstro que os smartphones se tornaram, mas se preocupam mais em ter, ter e ter mais um pouco.

Faço parte de uma parcela do Brasil (e não falo do mundo aqui, pra deixar claro, falo desse sudeste de onde sou) que acha que é mais intelectual que outros, mais estudado, mais capaz de eleger um candidato, dono da verdade e super politizado (porque quem gosta de vermelho é pobre sem estudo). Só porque estudou em uma faculdade ou tem um bom emprego. Ai... que dó de pessoas assim. Garantir presença numa sala de aula não faz de você inteligente e melhor que ninguém. E nem dono da democracia. O que você lê sobre o Brasil além do que a Veja mostra?

Faço parte de uma parcela do Brasil que gasta uma fortuna num jantar, esbanja dinheiro com todo tipo de tecnologia, roupa da moda do momento, compram as coisas pela marca e não por necessidade, (aliás, que confunde necessidade com desejo "preciso de uma Dudalina, o que vão pensar de mim se eu não tiver?"), se comprometem em dividas absurdas pra o ter o carro que demonstre mais status e dizem ter vergonha de andar de ônibus e criticam os funkeiros e a galera do rolezinho por "ostentarem". Vocês ostentam todos os dias... Hipocrisia pura. A parcela que faz tudo isso e enche a boca pra dizer que "quem recebe Bolsa Família é va-ga-bun-do". Nem vou comentar mais... Eles não se dão nem o trabalho de ler sobre o assunto, sobre a opinião da Onu, nem querem saber que a fome diminuiu pela metade nos últimos 20 anos no país... Pra que discutir com gente assim.

Faço parte de uma parcela do Brasil cheia de preconceitos, que criticam sem pensar e acham que acabar com a pobreza é num piscar de olhos, num passe de mágica. É... Só que não.

Enquanto milhares de Francilenes, de 14 anos, já casadas, dizem que queriam ser doutoras, advogadas, engenheiras, enfermeiras... mas que vão ficar quietas mesmo, porque já aceitaram que não podem ser o que a parcela do Brasil (da qual faço parte) tem o privilégio de ser, nós (da parcela) continuamos vivendo para nós mesmos, nossos sonhos tolos, nossas vidas medíocres, nossos jantares caros, nossos "haha" no whatsapp, nossas opiniões já formadas, nossas vidas cheias de coisas, mas vazias de amor e compaixão.

Querida parcela brasileira, da qual faço parte, no que nos tornamos?
Queridos jovens da Geração Y, da qual faço parte, será que nossos sonhos valem mesmo a pena ser levados a diante? Se for para o nosso conforto, para o nosso sucesso, só para nós... Não. Não valem a pena.

Faço parte dessa parcela do Brasil que está com o foco só nela. Mas deixa eu te falar de uma outra parcela da qual faço parte: dos cristãos dispostos a abrir mãos dos seus sonhos, para viver de acordo com o sonho dAquele que olha para as Francilenes com amor e compaixão. O único capaz de restaurar vidas e a justiça no Brasil, do qual faço parte.

Pertencente a uma parcela alcançada por uma graça que não me deixa estar insensível à vida,
Melissa Lima (futura jornalista, que tem tido os sonhos mudados a cada dia)

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações.Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno" Salmos 139:23-24

*Foto da reportagem do El País "A busca pelos ‘excluídos do Bolsa Família’ encontra os brasileiros invisíveis" http://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/21/politica/1411258987_199737.html

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